Se algum ser sobrenatural aparecesse do nada e lhe dissesse “você viverá eternamente a vida que tens agora”.
Isso seria uma benção ou um castigo para você?
Em outras palavras, a questão aqui é: sua vida está valendo a pena do jeito que ela está agora ou não?
Se você leu meu texto anterior, pode imaginar que algo assim, naquela época, seria um verdadeiro castigo.
Mas, felizmente, não é como eu responderia hoje.
Em abril de 2023 comecei a ter uma das melhores rotinas da minha vida.
E por que estou dizendo tudo isso?
Porque essa rotina só veio depois de um período difícil e uma decisão angustiante.
E eu sei que períodos e decisões assim fazem parte da vida de todos nós, Humanos.
Quero te fazer refletir, leitor, sobre quais batalhas realmente precisamos persistir e quais nós precisamos abandonar, sem peso na consciência.
Eu trabalho na UNIOESTE (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) desde junho de 2022, no cargo de técnico administrativo.
Logo no começo do contrato, fui alocada no setor de compras.
Um setor que, literalmente, faz compras e, algumas vezes, precisa ir até ao mercado fazê-las.
Compras que vão desde o papel higiênico até a contratação de construtoras para reforma de blocos destruídos por um temporal.
Um setor complexo, com demandas delicadas e extremamente importantes.
Nos primeiros dias, confesso que me assustei.
Pensei, não poucas vezes, em desistir logo no primeiro mês.
Com o passar de alguns meses, no entanto, fui me adaptando ao estilo de trabalho.
Mas daí chegou final de ano e, nossa, socorro!
Nunca tinha trabalhado tanto e num ritmo tão intenso.
Era como se o coelho da “Alice no País das Maravilhas” estivesse do meu lado o tempo todo, mas dizendo: “o prazo, o prazo, está quase acabando o prazo!”.
O nível de estresse alcançou o topo da bandeirinha de final de fase no jogo Super Mario Bros.

Foi punk, como costumo dizer às vezes.
Então, novamente, pensei em desistir.
Estava ficando realmente pesado pra mim.
Foi neste período, inclusive, que busquei ajuda psicológica, satisfatoriamente, oferecida pela própria Unioeste.
Eu trabalhava tanto durante o dia que, ao chegar em casa, tinha energia para nada.
Mesmo querendo estudar, treinar, fazer outras coisas além de trabalhar (porque a vida não é só trabalho), eu simplesmente não conseguia, pois me sentia completamente esgotada.
Era comum eu chegar em casa e só comer, tomar banho e dormir super cedo para aguentar o dia seguinte.
Nesse período, o que me ajudou também, e muito, foi ter uma excelente chefe.
Uma mulher incrível, afetuosa, respeitosa, compreensiva, humilde etc. e que me enchia de mimos.
Final do ano conversei com ela sobre minhas dificuldades e, por sorte, fui extremamente acolhida.
Depois de um enorme sufoco, o ano de 2022 acabou e 2023 começou (detalhes dessa parte eu conto neste texto aqui).
Eu continuei no setor de compras e o ritmo tinha desacelerado.
Até que, em março, houve uma reviravolta na qual eu me senti muito mal, triste e desanimada.
Depois dessa situação, concluí que eu não tinha mais capacidade de continuar desenvolvendo as atividades do setor de compras.
Então tomei uma decisão difícil: pedi para trocar de setor.
Difícil porque não é fácil aceitar que você não dá mais conta de algo.
O sentimento foi de incapacidade, fraqueza e fracasso.
Difícil também porque eu estava deixando uma chefe incrível na mão, sem alguém para me substituir.
E sair da Unioeste não foi uma opção, afinal, ir pra onde? e fazer o quê?
Eu preciso do dinheiro para pagar minhas contas e boletos, como todo mundo.
Mais importante ainda, preciso continuar investindo nos meus atuais estudos, pois justamente eles permitirão que eu trabalhe no futuro com algo que me realize mais.
Diante tudo isso, portanto, me dirigi até o RH e expliquei os motivos pelos quais eu gostaria de ir para algum outro local na Universidade.
Para a minha alegria, o pedido foi bem recebido e uma vaga recém aberta caiu como uma luva.
Então, do setor de compras eu fui para a coordenação do CELS.
A coordenação de 3 cursos: letras, enfermagem e pedagogia.
Aqui a burocracia é mais leve: editais, memorandos, ata de reuniões de colegiado etc.
Há contato com vários e diferentes alunos e professores, o que eu aprecio muito.
As tarefas são mais fluidas, e demandam “apenas” uma boa organização e planejamento.
Meu horário de trabalho mudou e acabei tendo todas as manhãs livres para fazer o que eu quiser.
E eu simplesmente amo o período da manhã para fazer as coisas, pois me sinto mais ativa nele.
O grande problema era dormir muito mais tarde do que eu estava acostumada.
De ônibus, eu levava, no mínimo, uma hora e meia para chegar em casa e acabava indo dormir próximo da meia noite.
O que é ruim pra mim, pois neste horário começo a ficar com a mente agitada, daí demoro pra pegar no sono e não consigo dormir bem.
Sem dormir bem, não consigo acordar cedo e fazer as coisas que eu poderia fazer, o que me condenaria a uma rotina incompleta novamente, pois voltaria a ser basicamente só trabalho (e a vida, ressalto, não é só trabalho).
Mas, com a ajuda do meu namorado, realizei um desejo que tornou tudo isso mais fácil e o que era um grande problema, deixou de ser.
Comprei uma moto, a “blue”, uma biz azul escuro.
E, graças a ela, consigo chegar em casa umas 22:40 e estar na cama quase dormindo às 23h!
Minha vida melhorou uns 70% com a blue.
Ganhei mais tempo e economizei muito com transporte.
É um risco maior, claro, mas é o que consigo no momento.
Ah, minhas manhãs! Vamos voltar pra elas.
Agora, dormindo às 23h, consigo acordar entre 7 e 8 horas da manhã, o que é excelente!
Acordo, arrumo o quarto, medito, tomo um café, estudo, treino, tomo banho gelado, almoço e daí, sim, vou para o trabalho.
Trabalho no qual não me estresso e ainda consigo ser produtiva até por volta das 21h.
E além da mudança de setor e implementação de uma boa rotina matinal, continuo dando aula de Filosofia no cursinho pré-vestibular da Unioeste.
Atividade desafiadora na qual me encontro e me desenvolvo muito, em vários aspectos.
Por fim, nos finais de semana (sábado ou domingo), faço companhia e ajudo uma senhora de 79 anos que mora em um apartamento no centro da cidade.
Resta pouco tempo livre, portanto, mas a renda está dando para investir, principalmente, nas coisas que preciso para uma verdadeira transição e finalmente abandonar o setor administrativo (risos).
Por que você contou tudo isso mesmo, Tati?
Olha, sei que a leitura já está longa, mas já estamos caminhando para o fim, me aguenta só mais um pouquinho.
Com essa história toda, quero deixar uma mensagem importante pra você, leitor:
Lute para responder ao ser sobrenatural lá do começo do texto, o seguinte: “será uma benção viver essa vida novamente”.
Não sei se já parou para notar, mas tudo que temos são os nossos dias.
E o que fazemos nos nossos dias consiste na rotina que temos.
A vida nada mais é que um conjunto de dias e rotinas acumuladas.
E, às vezes, a mudança que você precisa para ter uma rotina melhor e mais coerente com o seu propósito, pode vir logo após uma decisão difícil e angustiante.
Um tchau que você precisa dar para alguma coisa, mas que você está adiando por ser difícil e/ou doloroso.
Antes de pensar no que os outros vão pensar, pense em como você está se sentindo e o porquê.
Pensa em quê e como você pode agir para dar um passo, mesmo que pequeno, mas que te aproxima do que você realmente quer.
O compromisso é seu com o teu próprio sonho.
Seja fiel a ti mesmo e fiel à vida que você pode construir.
Que seja ela uma benção.
O que não significa isenta de dificuldades, mas que sejam as dificuldades certas.
Dificuldades que você precisa cruzar, pois faz parte do caminho que te tornará uma pessoa mais realizada e humanizada.
Longe de chegar onde eu quero, mas manter esses passos constantes no dia a dia já fazem eu me sentir feliz e grata hoje como eu nunca estive antes.
Torço pra que você sinta isso também, leitor, se já não for o caso.
Grata pela leitura,
* Tati(ane) Fonseca é amiga da Filosofia, especialista em Mindfulness, Neurociência, Psicologia Positiva e praticante de Yoga
Imagem: Jan Genge, 2021. Disponível em: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/GvnIvq7LPkY
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