Esse título faz sentido para você, leitor?
Veja, religiosidade (ou espiritualidade) não é a mesma coisa que religião.
Vamos entender essa diferença.
O professor Mário Sérgio Cortella explica que a espiritualidade é a percepção de que a vida não é mera matéria; que há um propósito.
A existência, nesse sentido, não é banal, nem fortuita.
A religião, por outro lado, é uma maneira de ORGANIZAR (ou formalizar) essa religiosidade em ritos.
Ritos: conjunto de ações, regras e cerimônias praticadas por determinado grupo religioso.
Feita essa distinção, podemos concluir três coisas:
a) é possível você seguir uma religião, mas NÃO ter religiosidade.
b) é possível você ter religiosidade, mas NÃO seguir uma religião.
c) é possível você ter uma religiosidade E seguir uma religião também.
Agora, permita-me contar um pouco sobre minha “jornada espiritual”.
Será que eu e você estamos no mesmo grupo?
Vamos lá!
Minha família segue o Espiritismo Kardecista.
Desde bem pequena, eu era levada às aulas de Evangelização e palestras espíritas.
Também tomava passe e participava de vários encontros em outros Centros Espíritas.
Durante muitos anos, eu participei desses ritos, mas não tinha religiosidade.
Eu não tinha o hábito de rezar sozinha, por exemplo.
Eu não sentia Deus ou qualquer coisa relacionada à espiritualidade.
Eu ia no Centro Espírita quase que por obrigação.
Ia porque era um costume da minha família participar todos os finais de semana das atividades espíritas.
Até certa idade, eu não tinha a liberdade de escolher ir ou não.
Mas, durante a faculdade, os dias da semana começaram a ficar mais apertados e corridos.
Continuar nas atividades do Centro Espírita finais de semana tornou-se difícil e pesado.
Um compromisso que começou a perder o sentido.
Então, aos poucos, fui abandonando esses ritos até parar completamente.
Sem religiosidade, passei a ser também uma ex-religiosa.
Após isso, inclusive, eu desenvolvi uma certa aversão às religiões, de modo geral.
Adotei uma postura agnóstica, de completa indiferença em relação a um sentido espiritual da vida e/ou da existência de Deus.
Uma fase niilista e existencialista, filosoficamente falando.
Nenhuma “muleta” metafísica me dava apoio e o sentido da vida era algo que eu construiria completamente sozinha.
Foi um período bem difícil.
Eu me sentia bastante perdida.
Uma Tati frequentemente triste, fechada, ranzinza e mal-humorada.
Após terminar a faculdade e um relacionamento longo e instável, deparei-me diante de um abismo; um vazio muito grande.
A tristeza tornou-se ainda mais profunda e, na maioria dos dias, eu abria os olhos de manhã e não sentia vontade de levantar e viver a vida que eu tinha.
Era uma vida que não estava valendo a pena.
Eu estava muito sozinha e desprovida de ferramentas e/ou recursos que pudessem me ajudar e me fortalecer emocionalmente.
E quando essa situação ficou insustentável, eu disse pra mim mesma: “eu não quero mais me sentir assim, eu não quero mais ser assim, eu não quero mais viver dessa forma que estou vivendo”.
Comecei a buscar algo que eu nem sabia direito o que era.
Comecei a fazer terapia.
Buscar ajuda de fora.
E, ao mesmo tempo, olhar mais pra dentro de mim mesma.
Vasculhar meu interior e entender o porquê tudo aquilo estava acontecendo daquela maneira.
Entender COMO e o PORQUÊ as coisas chegaram naquele ponto.
Foquei em mim.
Silenciei.
Parei.
Foi como entrar num casulo e, ali dentro, eu permaneci alguns meses.
E no meio desse processo, dei meus primeiros passos na prática de meditação.
Eu queria paz, queria me sentir bem, queria resgatar uma versão minha anterior àquela dor e sofrimento que eu estava passando.
Eu comecei a me interessar, e MUITO, por autoconhecimento!
Eu precisava entender o que estava acontecendo comigo e o que poderia ser feito para melhorar.
Eu precisava agir, aprender e fazer algo diferente do que eu vinha fazendo.
A meditação me ajudou muito.
Observar minha mente funcionando foi o caminho que me levou a encontrar a melhor coisa que existia dentro de mim.
Num retiro de meditação de 10 dias, eu tive minha primeira experiência espiritual.
É uma sensação indescritível.
Um silêncio na mente.
Nenhum ruído de pensamentos.
Por alguns instante, a Tati não existia ali.
Só havia energia, pura vida e nada mais.
Algo muito sutil, leve e extremamente agradável.
Disse a mim mesma: “eu nunca mais quero esquecer essa sensação. Eu quero mais dessa experiência que tive aqui. Sentir mais essa espécie de plenitude e conexão com uma dimensão mais alta”.
Aquele momento me transformou e foi o combustível necessário para eu continuar nessa jornada.
Continuei meditando e estudei muito.
Assuntos como cérebro, mente, comportamentos, emoções, sentimentos, hábitos etc passaram a ter muita relevância para mim.
Inclui na minha rotina a prática regular de Yoga também, que potencializou mais ainda essa relação de corpo, mente e alma.
Participei de mais retiros, cerimônias indígenas, grupos de oração e, aos poucos, meu lado espiritual (minha religiosidade) se fortalecia.
Fiz uma pós-graduação em Neurociência, Psicologia Positiva e Mindfulness e fiquei maravilhada com o tanto de coisa que aprendi.
Hoje, foco no estudo do Mindfulness, que nada mais é que a prática de meditação sob um olhar científico e laico.
Começo minha formação como instrutora em Agosto e estou empolgada para, daqui a 14 meses, atuar e estimular essa prática incrível e eficaz, principalmente para quem quer ter mais regulação emocional.
E você, leitor, alguma dor/sofrimento te motivou a buscar algo maior e mais sutil na vida? Ou essa procura se deu por razões mais brandas? Ou essa procura não se deu de maneira alguma? (no caso de ateístas/agnósticos).
Responda aqui nos comentários e até o próximo texto, se Deus quiser!
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Grata pela leitura,
* Tati(ane) Fonseca é amiga da Filosofia, especialista em Mindfulness, Neurociência, Psicologia Positiva e praticante de Yoga
Referências: Livro: Felicidade ou morte- Leandro Karnal e Clóvis de Barro. Curso: Filosofia e nós com isso? Professor Mário Sérgio Cortella.
Imagem: Andrew Petrov, 2021. Disponível em: https://unsplash.com/pt-br/fotografias/grVBtOLo0rM
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