pressa e demora são bff

Bem-vindo ao último texto do ano!

Por aqui, está escrito com sangue nas paredes dos corredores: “acaba logo 2022”.

Trabalho 08 horas por dia numa Universidade Pública e, recentemente, recebi um alerta da impressora informando que até o toner está esgotado.

“Ninguém aguenta mais, mas aguente firme, toner, porque falta só mais um pouco”, disseram os servidores.

Dezembro está sendo uma espécie de sexta feira, só que do ano.

Talvez só o Papai Noel esteja empolgado nesta época do ano porque recém começou sua jornada de trabalho (risos).

Os que “se comportaram” o ano todo, no entanto, estão desesperados esperando o presente descer pela chaminé.

Dezembro é um mês arrastado, cansado, pesado e carregado de esperança.

Exaustos, mas animados com a copa do mundo.

Exaustos, mas ansiosos pelo 13º, Natal, férias, viagens…

E a estrela da árvore (para não dizer a cereja do bolo): 2023 está logo aí.

Daí, sim! Ano NOVO, folga, mais férias, projetos NOVOS, VIDA NOVA!

Euforia, certo, então vamos com calma.

Já parou para pensar que a demora é diretamente proporcional à sua impaciência?

Essa frase eu acabei de inventar, mas arrisco dizer que, se você parar para pensar, concordará comigo.

Quanto maior a pressa, maior a sensação de demora.

Um minuto, por exemplo, é uma eternidade enquanto esperamos um resgate depois de sofrer um acidente, mas um minuto é praticamente nada quando estamos se divertindo com a pessoa que amamos.

Quanto mais você quer que algo aconteça, maior será sua angústia enquanto espera isso acontecer.

Quando a coisa está ruim, resta esperar que o que vem depois seja melhor (dezembro).

Esperança é a alegria planejada, mas ainda não experimentada (janeiro).

O contrário já é mais difícil: o que geralmente acontece quando a coisa está boa?

Você vive, está ali, conectado, engajado.

Enquanto você está experimentando um momento bom, é bem provável que você sequer pense sobre tempo.

Não há esperança, há alegria.

Você geralmente pensa e lamenta só depois que este momento acaba.

Depois que ele passa, sim, você percebe o quão foi bom e então deseja mais.

Da alegria que agora acabou, surge a esperança por uma hipótese futura de alegria novamente.

Passado e futuro é coisa da nossa mente, você percebe?

Não a toa que o filósofo e teólogo Santo Agostinho (354 d.C – 430 d.C) disse que o tempo está na alma.

O tempo é algo mais nosso que do mundo.

No mundo, só existe o instante, o presente, o agora.

Qualquer tentativa de captura, puff, passado.

Qualquer especulação, puff, futuro.

Em seu livro “Confissões”, Santo Agostinho diz que o tempo é aquilo que, “se ninguém me pergunta, eu sei; se quero explicá-lo a quem me pede, não sei”.

Um estudo conduzido por psicólogos da Universidade de Harvard, concluiu que nossa mente vagueia 46,9% do tempo.

E para onde será que ela vai?

Você toma café da manhã programando o que irá fazer de noite depois da janta.

Você trabalha enquanto tenta resolver um problema de casa.

Você está em casa lembrando do trabalho que esqueceu de fazer no trabalho.

Acho que você já entendeu e até pode ter lembrado de exemplos semelhantes que ocorrem no seu dia a dia.

É estar aqui, mas sem estar aqui de verdade.

No budismo, há um termo, em inglês, conhecido como “monkey mind“.

Traduzindo literalmente para o português significa “mente de macaco”.

A ideia costuma se referir a uma mente inquieta, inconstante, confusa, indecisa.

Muitos pensamentos que parecem saltar de galho em galho o tempo todo.

Agora pare e reflita sobre a seguinte pergunta: o que você faz não querendo estar em outro lugar?

Lembre-se de algum momento alegre na sua vida. Em que tempo sua alma estava durante este momento? Passado, presente ou futuro?

Um mundo cada vez mais depressivo e ansioso não é uma surpresa para mentes que vagueiam quase metade do tempo.

“Tati, tem como não ser assim?”

Eu pergunto: será que tem, leitor?

Deixo a esperança (e curiosidade) para o texto do ano que vem.

Te espero em 2023, se Deus quiser.

Grata pela leitura,

* Tati(ane) Fonseca é amiga da Filosofia, estudante de Mindfulness, Neurociência, Psicologia Positiva e praticante de Yoga

Imagem: Edwin Chen, 2021. Disponível em: https://unsplash.com/photos/1Jgihx-b23s


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