Dissemos “feliz ano novo!”, mas não paramos pra pensar que o novo pode trazer qualquer coisa: tanto o desejável quanto o indesejável / tanto o bom, quanto o ruim.
Dissemos “feliz ano novo!”, mas não paramos para pensar: o que é felicidade?
(Já adianto que é muito mais que essa alegria / euforia que você possa ter sentido ao abrir um champanhe caro na meia noite do dia 31 de dezembro)
Certa vez, ouvi que a vida é como uma esteira (tipo essa que tem em restaurante de sushi).
Ora a esteira traz flores; ora, fezes. Cabe a nós apreciar a beleza das flores e transformar as fezes em adubo. Adubo para a sabedoria.
A pandemia, por exemplo, foi uma prova de que nem tudo realmente são flores e prova de que muita coisa, definitivamente, não está sob nosso controle.
Uma das grandes causas de infelicidade é, justamente, desejar que a esteira só traga coisas gostosas, bonitas, agradáveis e alegres (trataremos um dia sobre positividade tóxica, inclusive).
Uma felicidade mais madura, no entanto, considera os aspectos negativos da vida humana. Uma vida feliz não é o mesmo que uma vida livre de tristezas e fracassos.
Essa pressão para que a gente esteja sempre bem, sempre alegre, sempre produzindo, isso gera muito mais frustração, cansaço, ansiedade e insatisfação, que felicidade.
Nessa rotina frenética que estabelecemos, deixamos pouco ou nenhum espaço para lidar com as fezes que a esteira traz. Nos tornamos cada vez menos tolerantes às frustrações, não queremos sofrer ou sentir dor.
O sentido da felicidade inclui também a necessidade de desenvolver resiliência para controle ou maior tolerância à frustração e à não realização de desejos imediatos.
Às vezes o mar está revolto e você está no meio dele. A única coisa que pode ser feita é aprender a navegar para não morrer afogado.
E quais habilidades e potencialidades possui meu aparato psíquico? Porque é este, meu caro, teu instrumento de navegação mais precioso.
De acordo com a professora e escritora Sonja Lyuborminski, felicidade é um estado de espírito, um contentamento, somado à uma percepção, mesmo frente às dificuldades, de que a vida é boa, tem sentido e vale a pena.
O desafio de ser feliz em um mundo caótico se resume a como reagimos à imensidão do sofrimento que nos atinge de todos os lados.
Imagine a vida como uma academia. As experiências negativas são os pesos que fortalecem nosso músculo espiritual. Viver é tentar ter consciência desses pesos e usá-los para nos tornarmos mais fortes diante das próximas lutas que aparecerão.
Como diria Robin Roberts, “a vida não é tanto sobre o que você conquista, mas sobre o que você supera” (só cuidado com a hiper responsabilização do indivíduo: “se você não conseguiu, a culpa é sua”. Outro dia falaremos sobre isso também).
Aceita uma síntese? É cortesia da casa!
Vamos lá: compreenda as frustrações. entenda que somos falíveis. cobre-se menos. não controlamos tudo o tempo todo. sejamos mais tolerantes, conosco, com o outro. sejamos mais solidários. tenhamos mais empatia. socialize-se. respire, foca mais no aqui e agora. diminui a carga de antecipação. valorize e prolongue as experiências positivas. dê um peso menor para o que não está indo bem. aproveite as crises para se fortalecer. entenda seus limites. vençamos estigmas, tabus e estereótipos.
Saúde mental a todos, neste novo ano que inicia!
Amém.
Grata pela leitura,
* Tati(ane) Fonseca é amiga da Filosofia, estudante de Mindfulness, Neurociência, Psicologia Positiva e praticante de Yoga.
Referências Bibliográficas
Felicidade e bem-estar na vida profissional, de Pablo Bes, et al.
Resiliência e flow: o gerenciamento da energia mental em busca de um bem-estar subjetivo, de Franciane Péterle de Assis.
Felicidade: uma revisão, de Renata Ferraz, Hermano Tavarez e Monica Zilberman.
Imagem: Isabela Kronemberger, 2021. Disponível em: https://unsplash.com/photos/DYWD8FIqtd4