Nos últimos tempos, vários espaços culturais com casa no nome surgiram aqui em Foz do Iguaçu, e quando a palavra casa não aparece explicitamente, o espaço é literalmente a casa de alguém.
Casa.
De acordo com o dicionário, casa pode ser um espaço de reunião, habitação de pessoas com os mesmos gostos, lar.
Por isso tenho pensado sobre como é bonito ter espaços voltados à arte com o nome de casa.
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Uma das características da cena artística latino-americana contemporânea é a autogestão, a organização de artistas e produtoras em espaços diferentes das galerias e museus. Aqui na cidade, essa característica é bem presente, considerando que temos poucas galerias e museus. Aqui, os espaços menores, organizados por artistas ou coletivos são mais comuns, e são fundamentais para fortalecer a cena.
Aqui, os espaços são as casas.
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Acho muito bonito como a artista Laura Zanon se descreve como cúmplice da arte. Cumplicidade é sinônimo de intimidade.
Ser amigo da arte, das próprias criações.
A arte não é distante, ela está aqui com a gente.
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Acredito muito que essas casas, em que mora tanta arte e tanta gente se reúne, são fundamentais para as pessoas se tornarem cúmplices da arte também.
Penso que as casas, que têm música, desenhos, palavras, rabiscos, pinturas pelas paredes, que são espaço de reunião de arte e de gente, são TÃO importantes porque nos mostram como podemos ser íntimas da arte, e como ela é pra nós.
As casas aproximam as pessoas da arte, porque não parecem lugares onde não deveríamos estar. Estamos seguras ali.
Estar na casa de alguém e ver paredes cheias, espaços preenchidos com cores, com sons, com palavras, tem potencial de lembrar que as paredes da nossa casa também podem ser preenchidas. Nós também temos direito.
Entender que temos direito à arte. Entender que as paredes da nossa casa podem receber peças de arte, podem escutar música e nos ver dançar, e que isso não deve ser restrito aos espaços como galerias e museus.
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Eu me sinto bem quando estou em casa. Eu me sinto bem quando estou em uma casa dessas, eu me sinto em casa de verdade. E pode ser que outras pessoas também sintam o mesmo, e se sintam cada vez mais próximas da arte, entendam que aquela casa está de braços abertos para elas.
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Tornar-se íntima da arte visitando a casa dela.
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Por mais casas – casinhas – casarões com/de/para arte.
(Texto por Ana Clara Fank)