Uma das questões que mais atrapalha o debate sobre as políticas públicas LGBT é a guerra nas redes sociais e nos espaços de poder e decisão por questões que servem muito para atrapalhar os avanços. E, muitas vezes, quem joga a isca é justamente quem defende a chamada “pauta de costumes” e tem posicionamentos contrários aos movimentos identitários que, por sua vez e num movimento de inconsciente coletivo, coloca todo sua militância no combate e acaba amplificando a voz de quem, no fundo, quer conter os avanços políticos e sociais. A luta é justa mas perder o foco é ineficaz. Neste momento, em Foz, para avançar a pauta das políticas públicas LGBT, é urgente:
1 – A criação do programa Transcidadania de Foz, com ações concretas de acolhimento, educação, emprego e renda, voltado exclusivamente para atender transexuais e travestis, podendo inclusive o Poder Público o exemplo, capacitando e contratando essa população e garantindo linhas de crédito Juro Zero específicas para esse segmento.
2 – Um censo específico para mapear a população LGBT da cidade, em especial a parcela em condições de vulnerabilidade.
3 – A criação de um Centro de Referência LGBT, com atendimento psicossocial, em saúde especializada (endocrinologia, urologia e ginecologia), que possa ser referenciado pela Rede Municipal de Saúde.
4 – Um Conselho Municipal de Políticas Públicas LGBT, buscando não só um espaço de debate identitário mas também de orientação e assessoramento à Prefeitura. E com viés econômico, buscando inserir a população LGBT no orçamento das diversas secretarias, principalmente nos programas de habitação.
Usar um pronome neutro ou bater palma na Parada do Orgulho é importante mas é preciso mais. Precisamos ir além. A defesa da população LGBT precisa ser econômica, porque boa parte dela precisa comer, pagar o aluguel e ter acesso ao mercado de consumo e serviços, com renda para poder viver dignamente e sem abrir mão de expressar quem realmente é, o que pensa e suas capacidades profissionais e cidadãs. Foz – e o Brasil – precisam fazer uma reparação social de verdade e dar exemplo. No final, a cidade fica mais justa e até o turismo sai ganhando, não é?
* Luiz Henrique é professor e coordenador do Coletivo de Cidadania de Foz do Iguaçu.