Em mais um post da série “Arte em Foz”, do Guia de Artistas, conversamos com a fotógrafa artista Thalyta Sousa, que reside em Foz do Iguaçu e capta imagens muito delicadas do dia a dia, além de fazer ensaios fotográficos.
Nesta entrevista, Thalyta fala um pouco sobre seu processo, traz algumas memórias e dá algumas dicas para pessoas que também desejam fazer suas próprias fotografias.
G: Conte um pouquinho sobre seu trabalho com fotografia
T: O meu trabalho fotográfico se inicia muito antes do clique. Gosto de dizer que ele começa na observação e que carrega a bagagem de uma observação que tenho praticado já há alguns anos. A imagem final, aquilo que foi captado e que posteriormente pode se transformar em papel, é apenas uma parte do que considero a minha fotografia. Tenho trabalhado atualmente com fotografia artística através de ensaios humanizados e fotografias impressas que acabam se transformados em quadros, imãs, marcadores de página e tudo aquilo que for possível.
G: Quando você acredita que a fotografia é arte? Ou ela é sempre arte?
T: Acredito que fotografia é arte quando há uma intenção de que ela seja arte, quando há um propósito, um objetivo, sentimento, pretensão, significado. Não acredito que sempre seja arte. Mas acredito que toda fotografia pode se tornar arte, basta alguém querer. É como o diálogo, ou a música, ou a literatura, ou o cinema. São linguagens que formulam sentidos e buscam comunicar algo a alguém. A fotografia é arte quando ela comunica algo a alguém.

G: Existem tipos de fotografia?
T: Sim, muitos. O campo da fotografia é bastante vasto. De forma geral, poderíamos considerar que a fotografia se divide e se subdivide através de estilos e nichos. Há a fotografia de moda, por exemplo, e há também a fotografia esportiva, gastronômica, de rua, há o fotojornalismo e muitas outras categorias que poderiam ser enumeradas quase ao infinito.
G: O que levou você a fotografar?
T: Sempre senti a necessidade de estar registrando o cotidiano que eu observo ao meu redor, principalmente pessoas, situações, coisas simples que pudessem ter algum significado, relevância social ou algum outro sentido pessoal. Gosto muito dos álbuns de família, de voltar para casa dos meus pais e olhar as infinitas fotos guardadas em álbuns enormes. Uma vez, em uma dessas visitas aos meus pais, decidi fotografar todas as fotos de todos os álbuns, tratar uma a uma apenas com ajustes básicos de luz e contraste e ordená-las em uma pasta chamada “recuerdos”. Sempre que alguém comenta algo sobre alguma história de família ou alguma lembrança, pego imediatamente o celular e busco a foto correspondente à história. Acho isso magnifico. A fotografia é um tipo de memória muito especial, é uma imagem de algo ou alguém que pode ser guardada para sempre. Acredito que o que me levou a fotografar foi a necessidade de manter as memórias vivas, de fazer parte dessa fábrica de criação de memórias e de registro que sempre achei mágico e encantador.

G: Quais são os temas que você mais curte fotografar?
T: Como já mencionado, gosto muito de fotografar o cotidiano. A maioria das minhas fotos não foram montadas ou ensaiadas antes. Foram situações que eu achei interessantes, relevantes ou engraçadas e quis registrar. Não me detenho em apenas um tema ou nicho. Fotografo aquilo que tenho vontade no momento que tenho vontade. Mas tento fazer recortes que possam ter algum sentido lógico de forma, método e temas, como por exemplo as coleções fotográficas ou os ensaios humanizados.
G: Você pode explicar um pouco sobre os processos da fotografia?
Acredito que cada fotógrafo tem um processo muito pessoal e íntimo. Tem dias que saio de casa e tenho vontade de fotografar absolutamente tudo, em outros dias, nada. Em algumas ocasiões saio especificamente para fotografar, para observar as ruas e as pessoas em suas diferentes funções, ou seja, busco as fotos e penso onde posso encontra-las. Em outras ocasiões, ao invés de buscar a fotografia, ela que me encontra através de alguma situação que eu não estava buscando e nem tinha a pretensão de fotografar, mas me vejo obrigada a registrar certas coisas, seja pela luz bonita, pela poesia que enxergo em algo ou simplesmente por querer guardar algum momento. Em geral, fotografo muito. O trabalho posterior é o mais difícil, pois exige armazenar tudo, rever as fotos, selecionar, editar e dar significado ao que foi registrado. Algumas fotografias tem o seu significado explícito e falam por si só. Outras, podem ter muitos sentidos e encontrar seu significado de formas distintas e em diferentes espaços. Para os ensaios humanizados o processo precisa ser melhor planejado. Apesar de trabalhar com a espontaneidade e fugir das fórmulas de poses, o ensaio humanizado requer muito planejamento, pois envolve dinâmicas que proporcionam experiências singulares e personalizadas para cada pessoa. Essas dinâmicas precisam ser planejadas e o contato prévio com a pessoa fotografada precisa ser constante para que tudo seja pensado e formulado em conjunto.

G: Quais os melhores apps de edição para foto?
T: Tanto gratuitos quanto pagos Acredito que os melhores programas pagos e também os mais usados seriam o Photoshop e o Lightroom. Mas eu não uso nem um nem o outro. Já experimentei algumas vez, mas não acho imprescindível para a minha fotografia. Gosto muito da parte da edição, de definir cores, texturas, etc. Acredito que isto seja parte da intenção e daquilo que se quer mostrar com a fotografia. A edição pode direcionar alguns sentidos e definir outros. Tenho usado apenas o Snapseed. Acredito ser um dos melhores, se não melhor aplicativo gratuito para edição de fotos. Ele tem alcançado as minhas expectativas e suprido as minhas necessidades de forma satisfatória até o momento.
G: O que é um ensaio humanizado?
T: Essa é uma questão que exige responder primeiro o que um ensaio humanizado não é. Normalmente, quando observamos a construção de um ensaio comum, podemos ver que as pessoas fotografadas se deslocam de suas personalidades, de suas formas naturais de ser, de se comportar, de se vestir, para uma forma de ser, de se vestir e de se comportar que elas não são. Lembro que quando estava perto de completar 15 anos, ficava pensando sobre a possibilidade de uma festa, de um ensaio fotográfico ou de uma viagem. Pensava que seria infinitamente melhor uma viagem, pois festa era algo mais para os outros que para mim. Apesar de pensar nessas possiblidades, nenhuma das três opções eram válidas, pois os meus pais não teriam condições de me dar nenhuma delas, mas sonhar é de graça. A opção do ensaio era a mais sem graça e cansativa para mim. Até hoje, vejo ensaios de 15 anos, books diversos e os observo com certa estranheza. Acho muito lindo querer registrar um momento especial, uma idade, gestação ou casamento. Acredito que o que me incomoda, no fundo, é a maneira com que isso é feito. A maioria dos fotógrafos decoram poses e ângulos para que as pessoas possam reproduzir na hora do ensaio. Esse método sempre me trouxe desconforto, sobretudo ao me imaginar fazendo poses. A fotografia humanizada é um processo muito longo. Um ensaio humanizado nunca dura o tempo proposto (entre 1h e 2h:30min). Um ensaio humanizado começa com a fala, com a comunicação, com a prática da escuta ativa e do interesse e respeito dx fotógrafx pelos sentimentos e desejos da pessoa fotografada. Não tem a pretensão de transformar as pessoas em modelos, mas de fazer as pessoas se enxergarem com mais carinho e da forma que elas realmente são.

A edição também entra no critério de humanização. Por trabalhar com fotografia humanizada e buscar o respeito à diversidade de pessoas e corpos, optei por não fazer manipulações nas minhas fotos como tirar rugas, fazer tratamentos de pele exagerados, emagrecer pessoas ou afinar seus traços. Na verdade, isso nunca foi uma opção para mim. A fotografia humanizada sempre foi muito presente no que acredito enquanto fotografia, mas só conheci o termo através da Paula Lavrador que tem uma página no Instagram chamada @olhoslivres.
G: Quais artistas da fotografia inspiram você?
T: São muitos, mas vou deixar apenas alguns mais antigos e outros mais atuais: Robert Frank, Milena Paulina, Sergio Larraín, Saullo Dannylck, Diana Arbus, Paula Lavrador, Antanas Sutkus e Fiama Azevedo (fotografia gastronômica afetiva).
Essa foi nossa entrevista com a fotógrafa Thalyta Sousa. Para ver outras entrevistas com artistas locais, clique aqui.