* Matheus Müller
Seguindo a linha da importância da diversificação da matriz econômica, algo essencial para segurança e sustentabilidade da economia regional, e que também permite combater a desigualdade social por meio de empregos e melhores salários, devemos analisar como isto pode ser feito e em quais casos tomar inspiração para criar políticas públicas que permitam um melhor futuro para os habitantes da cidade.
Um dos melhores exemplos possíveis de industrialização nas últimas décadas foi o desenvolvimento tecnológico realizado pela China e Coreia do Sul, seja na indústria automobilística, eletrônica ou de semicondutores.
Em meio a atual crise e a desindustrialização nacional que vem acontecendo desde o final dos anos 80, torna-se importante adotar um modelo sustentável e inteligente que permita absorver a mão de obra formada pelas universidades, principalmente dos cursos de engenharia.
Esse problema da industrialização não é de hoje, porém vem tomado um passo acelerado, tirando o financiamento dos setores de pesquisa, fomento a indústrias de tecnologia e inclusive liquidando empresas essenciais para o desenvolvimento de novas empresas, como podemos observar com as tratativas do governo de extinguir a CEITEC ( Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada ) que atua nos ramos de chips e semicondutores, um dos pilares da economia moderna.
Dado que segundo a Semiconductors Industry Association mostra que para cada dólar investido por um país em semicondutores, ganha 16,5 dólares em seu PIB. Além de permitir o surgimento de outras empresas de tecnologia ao redor dessas empresas de alta tecnologia. E segundo o Boston Consulting Group a estimativa de crescimento da indústria de semicondutores na década de 2020/30 é de 50%. As principais potências mundiais estão investindo bilhões de dólares no desenvolvimento e estabelecimento de empresas nos ramos de tecnologia avançada, beneficiando não apenas as empresas como também os diferentes centros de pesquisa, a maioria criados a partir da intervenção estatal.
Vale ressaltar que não necessariamente as empresas de tecnologia devam estar relacionadas especificamente ao ramo de semicondutores, mas a premissa é válida para outros ramos onde se tenha indústria de transformação e que se agregue valor aos produtos.
O brasileiro de modo geral deve colocar na cabeça uma coisa, se você deseja ter produtos industrializados a um preço justo e condizente com a realidade nacional, o melhor caminho a seguir será o planejamento a médio-longo prazo por meio da produção de tais produtos em território nacional. Temos que nos livrar do costume de sonhar em comprar iPhones e Playstations e sonhar com fabricar e projetar produtos como esses.
Nesse sentido, observamos algumas problemáticas que vão além da administração pública, como por exemplo o atual modelo de educação das universidades que nos leva a acreditar que não existe mais um interesse em formar uma classe dirigente industrial para conseguir alcançar uma independência tecnológica nacional, e que acabou contentando-se com a formação de profissionais para multinacionais montadoras, o que também requer uma mudança a ser discutida e avaliada.
A economia está cada vez mais relacionada à especulação, deixando o vínculo que tinha de antigamente com a produção. Décadas atrás o sonho da classe média alta era ser um industrial e abrir uma fábrica, hoje a filosofia da classe média alta está virando investir na bolsa e especular com o “trade” e o rentismo.
Dito isso, cidades que não são polos industriais como São Paulo, por exemplo, tem inúmeras dificuldades de conseguir estabelecer empresas de tecnologia, absorver mão de obra qualificada, e combater a desigualdade social por meio da geração de empregos qualificados.
Mas se a iniciativa não sair do governo federal, poderíamos de certa maneira pelo menos facilitar por meio de políticas municipais o estabelecimento dessas empresas de tecnologia, aproveitando a mão de obra criada pelas universidades.
Vale lembrar que quanto mais pequenas e médias empresas, empregando profissionais de diferentes setores e fazendo a economia movimentar, gerando renda para a cidade, se criam oportunidades para outras políticas públicas decorrentes desse avanço, e possibilita iniciativas público-privadas abrindo projetos que beneficiam a cidade como um todo.
Então fica a pergunta, qual será a atitude da prefeitura municipal em relação a necessidade de estímulos a novas empresas de tecnologia da cidade? principalmente as que são fruto das universidades locais. Logicamente sendo necessário solucionar os problemas decorrentes da pouca participação e estímulo do estado, quanto a mudança necessária na filosofia dos universitários.
Fontes:
https://www.paulogala.com.br/em-defesa-da-fabrica-de-semicondutores-do-brasil-ceitec-simbolo-de-nosso-desenvolvimento-tecnologico/
https://www.paulogala.com.br/eua-e-europa-tem-planos-de-investimentos-de-u500-bilhoes-em-semicondutores-no-brasil-vamos-encerrar-a-ceitec/
https://www.paulogala.com.br/como-o-estado-criou-a-tsmc-maior-fabricante-de-semicondutores-do-mundo/
https://rib.ind.br/para-cada-dolar-investido-em-semicondutores-geram-se-165/
https://www.ocafezinho.com/2019/03/02/a-desindustrializacao-do-brasil-continua-firme/
