O Dilema de Foz do Iguaçu

* Matheus Müller

Conforme observado durante os últimos tempos, desde o começo da pandemia, Foz do Iguaçu, assim como o resto do Brasil, apresentou uma grave crise econômica que acelerou ainda mais o desaparecimento da classe média, a concentração de renda na mão de poucos, e um aumento considerável na pobreza.

Além disso tudo ser até certo ponto resultado de uma política que acredita piamente em uma globalização sem pontos negativos, Foz do Iguaçu apresenta um quadro similar a de um país que sofre com a “doença holandesa”

Como André Roncaglia diz muito bem em seu artigo “Exportar Importa?” presente no excelente blog “Revolução Industrial Brasileira” de Fausto Oliveira:

https://rib.ind.br/exportar-importa/

“A grande controvérsia na teoria do desenvolvimento diz respeito à importância da composição da matriz produtiva para a trajetória de longo prazo das economias. A abordagem convencional (com viés neoliberal) reduz a questão à produtividade indiscriminada do ponto de vista setorial. Para esta visão, tanto faz produzir batatas, soja, milho ou semicondutores, aeronaves e máquinas de litografia. Se o mercado sinalizou a um país que ele deve ser um grande fazendão, que assim seja! A riqueza das nações seria resultado de instituições que garantem o respeito aos direitos de propriedade privada e uma boa dose de educação para a sua população e, claro, um “pouquinho” de inovação ajuda também. Basta deixar o barco ao sabor da correnteza da divisão internacional do trabalho.”

Com isso chegamos ao cerne da questão, Foz do Iguaçu se contenta em ser uma cidade meramente turística, e ainda assim o faz sem utilizar de boa parte da infraestrutura disponível a partir do investimento público para otimizar isso e gerar mais empregos e renda para a cidade. 

O que nos leva a um dilema, devemos continuar sendo uma cidade meramente turística ? Acredito que não. Foz do Iguaçu possui várias universidades com um grande volume de alunos sendo formados, os quais por falta de oportunidades locais acabam saindo da cidade. Algo que poderia ser muito bem aproveitado se fosse desenvolvida uma matriz econômica diversificada na cidade, gerando empregos e renda. Além disso existe a importância de manter os laços familiares próximos, sem ter que se mudar para longe apenas para conseguir um emprego depois de vários anos cursando algum curso universitário.

Foz do Iguaçu é uma cidade simbólica e histórica que possui um tremendo potencial tanto pelas pessoas que aqui vivem, como por ser privilegiada geograficamente em diversos sentidos. A cidade deveria se tornar exemplo de qualidade de vida, por meio de políticas que estimulem o desenvolvimento econômico, industrial e tecnológico, de maneira limpa e sustentável. Mas não podemos esperar que o estado seja o único interessado nisso, nós como moradores também temos a responsabilidade de transformar Foz do Iguaçu em uma cidade ideal para se morar. Para isso é necessário o diálogo entre os diferentes setores da sociedade, desde o trabalhador informal, até o grande empresariado.

Precisamos nos unir para construir uma Foz do Iguaçu modelo, tanto em termos de qualidade de vida, desenvolvimento, quanto uma cidade turística que seja exemplo mundial. Devemos discutir onde queremos ver a cidade e nós mesmos daqui 5, 10 ou 15 anos. E decidir qual rumo a cidade deve tomar.

* Matheus Müller Silva, acadêmico de engenharia química, músico e empresário.

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