CINEMA: Os limites dos visuais no impacto da obra

* Lucas Cavalcanti

Dois anos depois de ‘’Batman Forever’’, a Warner apressava Joel Schumacher para mais uma sequência da franquia do morcego. Não era pra menos, o filme anterior foi a segunda maior bilheteria de seu ano, e rendeu centenas em merchandising. É lançado então o polêmico ‘’Batman & Robin’’.

Se ‘’Forever’’ já mudava o tom em relação aos dois anteriores de Burton, mas ainda sim conseguia se segurar num equilíbrio contrastante entre o espetáculo visual e o desenvolvimento de seus personagens e dilemas, ‘’Batman & Robin’’ simplesmente abraça com as suas forças todo e qualquer significado da palavra EXAGERO, isso indo desde atuações, cenografia, linguagem e até leis da física (Mr.Freeze jogando o guarda para recuperar sua arma, estou olhando para você.)

Ele pega toda a estética do anterior e fetichiza ao ponto de criar uma artificialidade elevada à enésima potência, criando uma casca plástica em cima do conteúdo. Ironicamente ‘’plástico’’, vendo que boa parte do filme realmente tinha como intenção ser um pano de fundo de zilhões de dólares para alavancar vendas de brinquedos.

Vai me dizer que até na iluminação das roupas, eles não parecem de plástico?

Com isso, Joel Schumacher se diverte com o trabalho que tinha. Era como se estivesse respondendo à altura. ‘’É merchandising que vocês querem?’’. E o céu era seu limite. O culto aos corpos e a tímida extravagância visualque tomava forma mais para o final no filme anterior, agora já transparece desde o começo deste. A fotografia de Goldblatt juntamente com a direção de arte de Richard Holland e Geoff Hubbard cria, mais uma vez, um universo completamente irrealista e fantástico, focado puramente numa identidade visual única. Os planos holandeses voltam mais uma vez a enquadrar toda a odisseia visual exagerada com cores contrastantes, vivas e saturadas. Novamente, a ideia de ‘’ópera de cultura pop’’ é presente.

A trilha sonora de Goldenthal também entrega mais uma vez com elegância seu trabalho eclético de acordo com o que a cena estava compondo, e acompanhando o ritmo maior e mais alto do que era colocado em tela.

Porém, não são só as cores que acabam sendo contrastes nesse filme. Apesar de todos os esforços possíveis em transformar a produção num grande comercial, no fundo, de maneira bem tímida, existia ainda alguém no set gritando ‘’ei, estamos fazendo um filme!’’. E isso é refletido no arco de Alfred (que traz diálogos muito bonitos quando se tratando de sua relação de segundo pai para Bruce Wayne, agora interpretado pelo canastrão George Clooney), ou na tentativa de trazer um drama atrás de toda a frieza de Freeze, que se torna vilão para salvar sua esposa.

Mas toda e qualquer outra tentativa de desenvolvimento dramático ou acaba aí ou é incoerente com a proposta. Não haveria problema do filme se apresentar como um exercício visual experimental, mas ainda sim, ele acabava por plantar sementes que ele mesmo não estava com interesse em desenvolver. Trazendo à tona, novamente, a artificialidade, essa que atrapalha o investimento do espectador com qualquer tentativa de desenvolvimento dramático proposto. Forever, por exemplo, usava do bregae da auto-paródia como ferramenta para criar a identidade visual. Este decide trocar a ferramenta pelo investimento principal da obra. 

Sendo assim, acaba que a artificialidade cria um show de absurdos muito interessantes de se assistir, um verdadeiro passatempo. Mas não necessariamente é algo que o espectador invista seus olhares por estar se envolvendo com a obra, mas sim, pensando ‘’será que ele vai além?’’. E talvez ainda seja isso, é a curiosidade perante o vulgar que mantém a pessoa que está assistindo. E spoiler: até o seu último minuto de projeção, ele VAI além.

O terceiro ato do filme é a mais pura representação da obra em si extrapolando qualquer limite supostamente imposto. Em uma ocasião, a cidade congelada, alguém deve ter pensado ‘’por que não colocar trajes de gelo?’’ ebam, lá estavam eles, prontos para combater Mr. Freeze (Schwarzenegger) e Poison Ivy (Thurman).

Extravagância!

Falando nos vilões, como não esquecer dos trocadilhos de Freeze e de Ivy fazendo referência aos packs de brinquedos que vêm com outro de acessório ao se referir a Bane? (que oportuno!). Mais uma vez, a auto-paródia é presente, e chuta qualquer que seja a ideia de sutileza. As performances dos dois como uma dupla reinam o exagero, e por mais que existam motivações, o interesse do filme não é esse. Dependendo do quão disposto você tiver para visualizar a obra, diferente será a sua experiência.

‘’Adam & Evil’’

E contrastando com os bandidos, a presença de uma Batgirl (Silverstone) no lado dos heróis é totalmente desnecessária. Mas a linha de brinquedos precisava de mais uma figura, e ainda mais uma que pudesse se comunicar com o feminino. E Batman & Robin voltam com uniformes mais anatomicamente corretos do que nunca, elevando até detalhes nos mamilos em comparação com o filme anterior. O subtexto homoerótico continua, e mais forte, ou vai dizer que a crise na parceria dos dois ter a ver com a Poison Ivy é mera coincidência?

Portanto, é nítido que Batman & Robin é uma obra com um caráter visual muito mais presente do que seu interesse em desenvolver padrões narrativos e de linguagem já estabelecidos. Dependendo da sua idade ou, novamente, de sua vontade de encarar a obra, pode ser um prato cheio. A proposta presente é visível, e por consequência de seu investimento apenas visual, sabe-se lá até quando o espectador refletirá sobre seu conteúdo após a projeção.

* Lucas Cavalcanti é estudante de Cinema e Audiovisual da Universidade Federal da Integração Latino-americana (Unila)


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