Os usuários do transporte coletivo de Foz vivem mais um pesadelo com a guerra judicial envolvendo sindicato, empresas e Prefeitura. A situação parece não ter uma solução fácil e promete se estender por ainda um bom tempo.
No entanto, o mais preocupante nessa história é que a pauta tem sido basicamente o número de usuários, de ônibus e de trabalhadores ou, no máximo, o número de linhas. Um erro.
Precisamos pensar no presente e planejar o futuro.
Resolver a questão do transporte público de Foz do Iguaçu é algo bem mais complexo e exige uma convergência de ações e projetos, envolvendo não somente o que temos hoje (um sistema de mobilidade falido em forma e função) mas também onde queremos chegar no futuro e qual cidade queremos ter para nós e para quem nos visita.
Devemos pensar em um transporte inclusivo, ambientalmente responsável, eficiente, atendendo de forma confortável e justa e equilibrada as pessoas, dos bairros e do Centro, permitindo amplo acesso ao trabalho, à educação, à saúde, ao consumo e ao lazer, de forma acessível e democrática.
Devemos pensar, também, em um sistema de transporte que gere desenvolvimento, levando os ônibus para pontos onde a procura pode ser baixa hoje mas para onde gostaríamos de incorporar demanda, como as áreas industriais, bem como interligar os bairros, dando possibilidades além do Centro, fortalecendo as áreas de comércio como as avenidas Morenitas, Mário Filho e República Argentina e ajudando a reativar economicamente regiões tradicionais como Três Lagoas e Vila Portes.
Devemos pensar, ainda, em atender bem o turismo, conectando os atrativos de forma eficiente e valorizar a mobilidade de nossos estudantes, integrando rapidamente os bairros às universidades e ao centros hospitalares, inclusive garantindo acessos inteligentes às linhas internacionais que podem transportar os estudantes de medicina às faculdades paraguaias.
Devemos incentivar o uso do ônibu integrado a outros modais, como a bicicleta, patinete, skate e caminhada, construindo infraestrutura com ciclovias, bicicletários e calçadas sombreadas, planas e bem feitas. E precisamos incluir no sistema quem não pode pagar ou quem o valor da tarifa pesa muito no orçamento, garantindo dignidade a todos.
E devemos, principalmente, compreender que não existe um transporte coletivo justo e bom sem subsídios, sem investimento da Prefeitura e dos governos estadual e federal. Trata-se de uma escolha da cidade. E não podemos pensar num sistema adequado sem colocarmos dinheiro público.
Quem ainda acredita que somente um acordo entre empresas, sindicato e prefeitura vai resolver nosso problemas de transporte público se engana.
A gente precisa de bem mais que isso, de coragem, de espírito coletivo e público e, claro, criatividade
* Luiz Henrique Dias é professor e gestor público.
