* Luiz Henrique Dias
A imprensa de todo o país noticia a “possibilidade” de clínicas particulares brasileiras poderem importar vacinas contra o coronavírus e que já há um pedido preliminar de 5 milhões de doses, da Índia, para atender o setor privado brasileiro .
Permitir a livre iniciativa pode até ser um argumento em questões gerais mas, se tratando da maior imunização da história da humanidade e de quantidades ainda limitadas de vacinas e seringas, os governos devem ter não só a preferência de compra mas o poder de orientar os rumos da vacinação da população a partir de seus planos nacionais de imunização.
Permitir a vacinação privada, nesse momento em que ninguém aqui foi vacinado, é criar uma concorrência entre o setor de compras públicas e as “leis do mercado” que pode inflacionar preços pelo aumento da demanda e baixa oferta de produtos e insumos, prejudicando as contas públicas e matando ainda mais gente, além de atrasar mais o processo.
Ao mesmo tempo que cria uma ruptura social inédita de vacinados e não vacinados: quem tem dinheiro pra pagar caro por uma dose vai fazer imediatamente, ignorando a orientação das autoridades em saúde de imunizar primeiro grupos de risco. A classe social será a nova prioridade.
Temos um dos maiores sistemas de saúde pública do mundo e de incontestável experiência em vacinação e imunização em massa (quer ler esse texto certamente já foi vacinado pelo SUS, mesmo que não saiba) e temos condições de, como Estado, garantir uma vacinação ampla e universal e ter sim o monopólio do processo e de compra. O Brasil deve agir imediatamente pois a pandemia avança e pessoas estão morrendo.