Desigualdades

Comecei a redigir este artigo depois do devastador segundo turno das eleições municipais tanto para o campo progressista quanto para os brasileiros que viram, a partir dos resultados, a tomada de medidas não só em relação à epidemia, mas a algumasque afetarão, ainda mais, a vida em sociedade.

Até o dia 2, são essas as medidas em nível nacional: a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) reativou as bandeiras tarifárias nas contas de luz e estabeleceu patamar vermelho 2 para o mês de dezembro. A Portaria interministerial 3, do governo Bolsonaro, alterou a gestão do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) e diminuiu o valor mínimo nacional a ser investido por aluno anualmente, também anulou os ganhos salariais dos professores da educação pública para 2021. Isto é, não haverá a atualização prevista na de 5,9%. Com a redução no investimento mínimo, a categoria terá agora reajuste zero. O MEC determinou volta às aulas presenciais nas universidades federais a partir de janeiro, decisão revogada, por causa da repercussão negativa. 

No estado do Paraná  o governo decreta toque de recolher, pela primeira vez, em todo o estado, a partir de quarta-feira (2) e prevê restrição de circulação de pessoas entre 23h e 5h, por 15 dias. Também confirma prova para seleção de professores PSSem meio ao acirramento de casos de COVID.

Em relação à tríplice fronteira, depois da abertura da fronteira com o Paraguai, a Província de Misiones elabora protocolo para reabertura de fronteira com Brasil, com previsão de abertura apenas em Puerto Iguazú, para reativar o turismo na cidade das Cataratas.

No município de Foz do Iguaçu, a partir do dia primeiro, bares, casas noturnas, restaurantes, lanchonetes, distribuidora de bebidas, pesque-pague e salões de festa devem encerrar as atividades até a meia-noite. A Prefeitura também anunciou a intervenção no sistema de transporte coletivo por seis meses.

Vocês devem estar se perguntando onde pretendo chegar após elencar as principais notícias, é simples, sou professora de redação e uso todas as notícias, semanalmente, para elaborar propostas de redação e dar trabalho para meus alunos particulares elaborarem textos e, ao mesmo tempo, ficarem cientes de temas atuais. Isso não quer dizer que um desses assuntos estará presente nas provas do Enem, afinal, a proposta está pronta (eu espero!) e deve abarcar, quero crer, uma temática voltada ao noticiado até o mês de maio/2020, como sempre foi, mas há os vestibulares que, por serem direcionados a um menor número de participantes, podem utilizar fatos recentes em sua prova.

Mas, será que podemos afirmar que isso ocorrerá? Será que otema será social? Será que podemos esperar que a prova de Redação do Enem continuará composta por uma frase-tema, geralmente de um problema atual da sociedade brasileira?Diferentemente de alguns vestibulares, a proposta da redação do Enem vem acompanhada por textos de apoio – pesquisas científicas, notícias, quadrinhos e outras ilustrações – e cobra uma única estrutura de texto, em formato de dissertação argumentativa. Mas, diante do descalabro atual por parte do MEC, tudo é possível.

De minha parte, desde 10 de fevereiro até hoje, foram abordados trinta e seis temas com quatro estruturas diferentes cada um – dissertação argumentativa, dissertação expositiva, carta argumentativa e artigo de opinião – totalizando 144 textos corrigidos por aluno. Mas, aí vem a questão que me levou a escrever este: e os alunos da escola pública, quantos textos produziram este ano? Quantos foram corrigidos? Será que o professor tem condições de corrigir, ao menos, um texto mensal de cada aluno de suas turmas em meio à pandemia? Será que o professor tem suporte para corrigir textos de forma on-line? E os alunos e alunas paranaenses que não mais terão o ensino noturno? Como está a “cabeça” deles e dos professores e professoras?

Diante de notícias atuais acerca da educação, minha classe vem amargando perdas desde a saída da presidenta Dilma e, mais uma vez, está sendo aviltada, afinal, para que investir nessa área?

* Tania Mara Aristimunho Vargas, professora aposentada, leitora voraz, autodidata em controles internos.


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